PALAVRAS EM FOCO

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terça-feira, 8 de março de 2011

PARA ENTENDER UMA MULHER

Para entender uma mulher
é preciso mais que deitar-se com ela…
Há de se ter mais sonhos e cartas na mesa
que se possa prever nossa vã pretensão…

Para possuir uma mulher
é preciso mais do que fazê-la sentir-se em êxtase
numa cama, em uma seda, com toda viril possibilidade… Há de se conseguir
fazê-la sorrir antes do próximo encontro

Para conhecer uma mulher, mais que em seu orgasmo, tem de ser mais que
amante perfeito…
Há de se ter o jeito certo ao sair, e
fazer da saudade e das lembranças, todo sorriso…

- O potente, o amante, o homem viril, são homens bons… bons homens de
abraços e passos firmes…
bons homens pra se contar histórias… Há, porém, o homem certo, de todo
instante: O de depois!

Para conquistar uma mulher,
mais que ser este amante, há de se querer o amanhã,
e depois do amor um silêncio de cumplicidade…
e mostrar que o que se quis é menor do que o que não se deve perder.

É esperar amanhecer, e nem lembrar do relógio ou café… 
Há que ser mulher,
por um triz e, então, ser feliz!

Para amar uma mulher, mais que entendê-la,
mais que conhecê-la, mais que possuí-la,
é preciso honrar a obra de Deus, e merecer um sorriso escondido, e também
ser possuído e, ainda assim, também ser viril…

Para amar uma mulher, mais que tentar conquistá-la,
há de ser conquistado… todo tomado e, com um pouco de sorte, também ser
amado!”

Carlos Drumond de Andrade


domingo, 6 de março de 2011

XICO SÁ - Carta para Lea T.

Cerezo dividiu com todo mundo o carinho pela filha. Deixou claro que não há desgosto


Xico Sá

AMIGO TORCEDOR, amigo secador, esqueça por um momento os canalhas e os faraós que mandam no nosso futiba, esqueça as desgraças recentes do seu time do peito, deixe de lado inclusive os eufóricos triunfos. Ponha uma pedra em cima das resenhas esportivas e amoleça o seu petrificado coração de gelo.
Meu menino, minha menina, que coisa linda a carta que o Toninho Cerezo escreveu para seu filho, sua filha. Saiu na revista "Lola" deste mês, corra, velho fanático, corra, leia o manifesto do bravo pai do Leandro -o rapaz que virou Lea T..
Cerezo pôs toda a elegância que usava no futebol, talvez o mais conservador e machista dos ecossistemas terrenos, na sua declaração de amor incondicional. "Dois filhos em um", o título da missiva, resume com graça a história.
Um chega pra lá, com classe, nos torcedores que o provocaram nos estádios quando Lea T. debutou no mundo fashion. Cerezo era técnico do Sport no momento em que a modelo, já célebre na Europa, tornou-se conhecida também por aqui.
"A paternidade é livre de qualquer padrão, de qualquer critério imposto pela sociedade, filho deve ser aceito na sua totalidade, na sua integral condição de vida, independentemente da sua orientação sexual", diz o craque na bola, craque na ética.
Meu menino, minha menina, e não é que a Lea T. repete nas passarelas e editorias de moda a mesma elegância do ex-jogador do Galo e da seleção brasileira?! Tal pai, tal filha, cada um com a sua arte.
E pouco importa que a carta de Toninho Cerezo sirva de exemplo ou não contra o machismo no esporte. Seja no futebol ou no rúgbi. A beleza está no manifesto público de devoção pela sua criatura.
Ninguém é obrigado, em nenhuma circunstância, a demonstrar abertamente o amor ou desamor paterno. Pode-se muito bem resumir o afeto ou o incômodo à convivência, aos muros da privacidade.
Cerezo dividiu com todo mundo o carinho pela filha. Deixou claro que não há desgosto da sua parte. "Menino ou menina, Leandro ou Lea, não importa mais, sempre serei seu pai e você, orgulhosamente, um pedaço de mim", caprichou na carta aberta.
É para se orgulhar mesmo, moça, seu pai mostrou que é um grande cara. Aproveito a oportunidade para deixar os parabéns. Pelo sucesso e pelo encanto radical que nos desperta. Quanta beleza, quanta ternura.



FILOSOFIA

Noel Rosa ( 1033 ) Poeta de Vila Isabel
 
O mundo me condena, e ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome
Mas a filosofia hoje me auxilia
A viver indiferente assim
Nesta prontidão sem fim                                                                                                     
Vou fingindo que sou rico                                                                                       
Pra ninguém zombar de mim
Não me incomodo que você me diga
Que a sociedade é minha inimiga
Pois cantando neste mundo
Vivo escravo do meu samba, muito embora vagabundo
Quanto a você da aristocracia
Que tem dinheiro, mas não compra alegria
Há de viver eternamente sendo escrava dessa gente
Que cultiva hipocrisia