Sader diz que discorda "frontalmente" de posições da nova gestão do Ministério da Cultura
Guilherme Freitas
Pouco após a divulgação da nota em que a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, cancelou sua nomeação para a presidência da Fundação Casa de Rui Barbosa, Emir Sader publicou um comunicado em seu blog, no site da revista "Carta Maior" (), atribuindo a decisão à pressão da imprensa e a suas divergências com a administração do MinC. No texto, Sader diz que seu projeto de fazer da Casa um polo de debates sobre o Brasil contemporâneo, anunciado em entrevista ao GLOBO em 5 de fevereiro, desagradou a "setores que detiveram durante muito tempo o monopólio na formação da opinião pública", que "reagiram com a brutalidade típica da direita brasileira".
O sociólogo também criticou o MinC por ter "assumido posições das quais discordo frontalmente, tornando impossível para mim trabalhar no ministério, neste contexto". Embora não cite essas posições na nota, Sader manifestou, na mesma entrevista à "Folha de S. Paulo" em que chamou a ministra de "autista", divergências quanto à postura do MinC sobre propriedade intelectual e os Pontos de Cultura.
Sociólogo e cientista político formado na Universidade de São Paulo (USP) e atual diretor do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), onde também é professor de sociologia, Sader é um acadêmico de presença constante no cenário político nacional. Ligado ao Partido dos Trabalhadores (PT), ele foi um dos principais articuladores do evento "Cultura com Dilma", que, na reta final da campanha presidencial do ano passado, reuniu centenas de artistas no Teatro Casa Grande, no Rio, para um ato de apoio à então candidata do PT. Foi também um dos idealizadores do manifesto entregue a Dilma na ocasião, com mais de seis mil assinaturas.
Sader é autor, coautor ou organizador de quase cem obras, como "Latinoamericana - Enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe", obra de referência de 1.406 páginas publicada em 2006, e "Século XX, uma biografia não autorizada: o século do imperialismo", além de diversos livros sobre marxismo.
Na nota divulgada em seu blog, Sader diz que sua intenção era de também fazer da casa, além de seu perfil atual de centro de pesquisas, um "espaço de debate pluralista sobre temas do Brasil contemporâneo, um déficit claro no plano intelectual atual". Na entrevista ao GLOBO em fevereiro, Sader defendia que o governo adotasse políticas culturais que "consolidem na cabeça das pessoas as razões pelas quais o Brasil está melhor". Depois da decisão da ministra, o sociólogo afirmou que desenvolverá o projeto "em outro espaço público, com todas as atividades enunciadas e com todo o empenho que sempre demonstrei no fortalecimento do pensamento crítico e na oposição ao pensamento único".
Ontem, antes da divulgação da nota da ministra, Sader publicara em seu blog outro texto, intitulado "Pensamento crítico contra pensamento único", no qual elogia intelectuais como Marilena Chauí, Maria da Conceição Tavares e Leonardo Boff, entre outros, que, segundo ele, desenvolvem "formas distintas de pensamento em uma lógica oposta aos dogmas do pensamento único, que continua a orientar a velha mídia".
Sader critica "consenso furioso da velha mídia"
No artigo, Sader diz que seu projeto para a Casa foi prejudicado por veículos de imprensa "que apoiaram a ditadura, foram perdendo leitores, credibilidade, viabilidade, foram sendo abandonados pelos jovens, pelos que preferem o pensamento crítico ao pensamento único".
"Todas as agressões que me reservam, eu as recebo como condecorações ao pensamento crítico. Não tive medo da ditadura, de processos que tentaram me silenciar, resisti, como tanto outros, a toda essa engrenagem e saímos vitoriosos, com a vitória do Lula e da Dilma. Grave seria se me exaltassem", continua Sader. No Twitter, o sociólogo criticou o "consenso furioso da velha mídia": "Eu não mereço tanta deferência assim da mídia. Se dedicam tanto a me criticar pelo medo que o seu pensamento único tem do pensamento crítico", escreveu.
Como é que uma imprensa que se autoproclama "modelo para o país" vai desqualificar a indicação de um renomado professor, Emir Sader, um dos mais respeitáveis intelectuais do Brasil, apenas porque ele tem postura ideológica divergente da linha editorial do jornal? Depois a Folha de São Paulo faz propaganda dizendo que "acolhe os vários tipos de visão".
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